sábado, 9 de abril de 2011

Abuso de lá abuso de cá


Contemplados na primeira edição do programa Rumos Teatro ano 2010, do Itaú Cultural, o cearense Grupo Bagaceira e o pernambucano Coletivo Angu de Teatro já iniciam as atividades. Como principal característica do programa, a proposta é dialogar e intercambiar ideias




 
Era 2004 e a cidade de Guaramiranga fervia em mais uma edição do seu Festival Nordestino de Teatro. Os grupos Bagaceira (CE) e Coletivo Angu (PE), com importante e estável atuação em seus estados, integravam a mostra. Nascia ali uma admiração mútua. “Nos conhecemos de assistir os trabalhos um do outro, de conversar em mesa de bar, mas nunca havíamos, de fato, trabalhado juntos. Esta foi a oportunidade”, comemora o ator pernambucano Arilson Lopes. Ano passado, as duas companhias foram contempladas, em projeto conjunto, na primeira edição do programa Rumos Teatro, do Itaú Cultural.


Ainda em fase embrionária, os coletivos realizam esta semana a primeira etapa da ação. Longe de qualquer pressão para montagem de um trabalho de cena, uma característica do Rumos, os artistas se encontram para debater a linguagem e refletir sobre a prática do teatro de grupo. “É uma proposta muito rica. Geralmente, o marketing dos bancos quer um resultado, um produto. E este é um projeto que banca o encontro, o diálogo, a discussão”, elabora Rafael Martins, ator e dramaturgo do Grupo Bagaceira.

Analisando as propostas das companhias, os atores decidiram investir num tema cotidiano e recorrente nas pesquisas de ambos os grupos. “Decidimos falar do abuso. É um tema que está muito presente na atuação e nos espetáculos de cada um”, explica o diretor e ator do Bagaceira, Rogério Mesquita. E como a palavra dá vazão para um mundo de possibilidades, Rafael Martins explica que somente com o tempo eles definirão o recorte do projeto Abuso. “Você abusa e é abusado o tempo inteiro, em qualquer situação. Ainda não sabemos como o tema será trabalhado, mas a base do teatro é o conflito e o abuso representa isto”. Até o segundo semestre, o cronograma prevê encontros em Fortaleza e Recife e a alimentação do blog Conexões Coletivas.

Como outras edições do programa Rumos, uma das exigências deste é a manutenção de um blog onde o público, instituição e os outros aprovados possam acompanhar o desenrolar do projeto. “Não queremos que o blog seja sisudo. O público sempre opera a obra e vai ser um bom termômetro para isso”, enfatizou o ator Arilson Lopes, do Coletivo Angu.

Até o segundo semestre, os 24 grupos selecionados no edital 2010, deverão apresentar a quantas anda o desenrolar do projeto. A Mostra de Processos acontecerá na sede do Itaú Cultural, em São Paulo. O Bagaceira e o Coletivo Angu são os únicos grupos nordestinos a intercambiar entre si. “Não estamos nos preparando para montar um espetáculo, até porque o projeto não banca isso, mas para dialogar, trocar experiências. O maior objetivo deste programa é o processo”, enfatiza Rogério Mesquita.

Criado em 2000, o Grupo Bagaceira de Teatro sempre priorizou a pesquisa autoral. Com 11 espetáculos montados, o grupo tem um repertório premiado, como as peças Lesados e O Realejo. O pernambucano Coletivo Angu de Teatro soma em oito anos de estrada, as montagens Angu de Sangue e Rasif, de Marcelino Freire, Ópera, de Newton Moreno.

Elisa Parente
elisa@opovo.com.br

Um comentário: